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quinta-feira, 21 de julho de 2016

“CANTU”

             Assim mesmo. Simples como a simplicidade em si. Alguém poderá até acrescentar que o correto seria “Kantu”. Não sei; não sabemos. Mas todos sabem que se tratou de uma dessas criaturas simples, gente do povo, talvez sem aderências afetivas ou sociais, que passou resvalando por esse vidão que o Deus nos dá. 
              Dona Cantu foi uma velhinha de pernas frágeis, sequinha e de olhos envidraçados por alguma malvada catarata do abandono da velhice e da dureza padecente em que vivia.
             Morava na Praça Nova, numa casa velha destiorada pelo tempo, lavada pelas muitas chuvas e batida pelos muitos sóis dos sertões. Na frente, existia frondoso e alvissareiro tamarindeiro a desafiar pedradas e garotos ávidos.
              Descubro-me o quanto éramos os garotos daqueles tempos, cavalheiros. Nunca negávamos o pronome de tratamento “dona” ou “senhora”, pelo que a condição de pobre criatura e desafortunada da vida Cantu não autorizou, jamais, menino do meu tempo a lhe pespegar um “Cantu” desrespeitoso sem as devidas mesinhas do trato com intimidade.
              Não lhe sabemos a origem. Apenas que era uma frágil criatura que vivia com, ao que parece, uma das suas irmãs ou parentas, ajudava a entregar leite que era vendido de porta em porta, enfim, uma simples “menina de recado”. Andava com regulares dificuldades, talvez pela artrose que não poupa os velhos, mas de uma lucidez à prova, capaz de ter e contar com simpáticas pessoas que a respeitavam entre elas Dona Maria Cesar, vetusta e rígida mãe do escriba denunciador que exigia respeito pela “Cantu” e que não admitia que os filhos apelidassem a Cantu, que ficava fula e raivosa a cuspir impropérios contra os seus “detratores”, sem contar e relembrar que ela fora aquela que levava leite todos os dias para os filhos.
              Às vezes na calada da fria madrugada, penso e matuto: e se os meninos daqueles tempos recebessem hoje os apelidos que dávamos nos velhos daqueles tempos? Deixa pra lá. 
               Por lembrança de Tânea Gouveia, conterrânea, que ontem fez referencia ao nome da Cantu, chegou-me a lembrança, uma vez que já escrevi aqui neste blog sobre outros populares como Queixinho, Vicente e tantos não menos populares, nas recordações que os velhos, meninos do ontem distante, nem de longe poderiam pensar que nas brumas do passado enterramos as recordações. 
                Obrigado, Cantu! Até logo, Cantu!

domingo, 17 de julho de 2016

UM CEMITÉRIO BUCÓLICO.

                                     

         A década era a de 1950. O catolicismo espalhava suas garras distribuindo terror e crueldade, intolerância e ódio, descrença e paganismo, sentindo-se ameaçado pelo avanço paulatino dos “protestantes”, no Brasil e no mundo, pregando e ensinando sua crença num Único e Poderoso Deus e Senhor Jesus Cristo, enquanto este avançava a duras penas, pelo denodo e amor pelas almas que os “crentes” espalhavam nas cidades.
        O catolicismo que foi “oficializado” pela monarquia no Brasil, se estabelecera com todos os seus vícios e defeitos tão inerentes, espalhando suas doutrinas ultra montanas, deixando sempre e sempre um rastro de sangue, dor e corrupção nos países do seu  domínio católico.
       A duras penas o Brasil atravessa quase todo o período monárquico sem conseguir ao menos arrefecer o ardor dos seus bispos e cardeais sempre empenhados em dominar as instituições no Brasil e no mundo católico, afundando suas garras dominadoras e opressoras sobre o mundo, ao bel prazer dos seus próceres, na doutrina papista, e na ignorância dos governantes brasileiros.
        Quando chegam os ventos liberalizantes da Reforma Protestante entre nós, o jesuitismo que dominava a pátria brasileira não arrefece da sua sanha criminosa, perseguindo e matando impiedosamente todos quantos ousassem se levantar contra as doutrinas católicas, apoiadas por príncipes e acólitos do catolicismo  na mais total e crassa ignorância de direitos que em outras nações já vigiam com a chegada e avanço do “protestantismo”, perdurando, entre nós, a indecência e a imoralidade católica, no distorcer da bíblia e no modo civilizado de convivência religiosa.
        Por volta de 1822 com a chamada independência do Brasil, já eram contados muitos protestantes no Brasil, porém contando com uma igreja católica oficial em que seus religiosos recebiam salários do Brasil uma vez que eram considerados padres e freiras e demais religiosos católicos como funcionários do governo.
       Com a proclamação republicana, ao contrário do que deveria ser, a igreja católica não perderia sua influência, muito pelo contrário, passaria a contar com cardeais muito mais aguerridos em destruir as leis, seja condenando o casamento civil e as instituições advindas com o Código Civil que viria a ser a lei civil de todos os brasileiros, quer condenando o casamento civil quer pregando e autoafirmando casamento eclesiástico, assim como ensinando e amaldiçoando perante populações sem instrução propugnada pelos males da república e sua nocividade, isso tudo em luta aberta contra a proclamação republicana, e a nocividade dos credos que se estabeleciam na república.
          Não obstante a declaração republicana, o catolicismo continuou a permear a vida brasileira e a se aprofundar em perseguições, as mais vis, causando não apenas dissensão, mas promovendo abertamente as mais sórdidas campanhas contra os protestantes, negando-lhes o direito de sepultamento nos eremitérios municipais, já que eram administrados pelas paróquias brasileiras.
        Assim nascem os “cemitérios de crentes”, uma tentativa de sepultar os crentes sem os percalços desabonadores infligidos por católicos e padres açoitados por bispos e cardeais, ali sendo depositados seus entes que abraçaram o protestantismo, mas resinados com as perseguições até para depois da morte, cuja mancha será carregada e denunciada de século a século.
          Não existiu uma só cidade que não tivesse seus cemitérios de crentes
       Em Itiúba existiu o seu “cemitério de crentes”, afastado da cidade, distante dos “católicos” para que sua influencia e temor se espalhasse na negação da dignidade negada pela igreja da maioria, na descrença dos seus pares, e fiéis, e na imensa e inaudita satisfação dos seus lideres embatinados representado por cardeis e padres.
        O cemitério era de pequenas dimensões. Simplório como simplória foi a fé dos seus mortos, ostentava uma pequena porta singela e batida pelos sóis e pelas chuvas, paredes caiadas de branco no torpor da orada aos pés da montanha testemunha muda da crueldade da igreja que se dizia de Cristo, mas que foi apossada por lobos vorazes corrompendo-a até a medula.
      Ali na placidez das montanhas de Itiúba muitos corpos repousam nas covas rasas a espera da justiça que um dia virá, e na satisfação dos corpos glorificados para a eternidade.
       Justiça se faça aos jovens católicos de Itiúba, entre eles um soteropolitano que num rasgo de revolta contra um padre da localidade, que negou sepultamento a uma jovem católica que se suicidara, de nome Joaquim Brandão Cirne entre outros.
          No governo do senhor João Durval as pedras dos alicerces do que restou do outrora  cemitério foram empurradas do seu lugar para dar passagem a uma estrada de rodagem Itiúba-Camandaroba.
          Que descansem em paz!
        


quinta-feira, 7 de julho de 2016

O HOMEM QUE NÃO TINHA NARIZ

         O ano se não me recordo. Sei que foi na década de 70 quando eu já estudava direito e fui aos sertões aproveitando um dos raros momentos de descanso. Em lá chegando fui convidado por antigo colega de infância, hoje falecido, então comprador e negociante de gado, para irmos à vizinha cidade de Andorinha, a qual nunca lá havia estado antes. 
          Era um sábado.Movido pelo convite e pela curiosidade em conhecer a pequena cidade, que por sinal achei-a muito simpática e organizada, fiquei perambulando sozinho pelas ruas, já que abstêmio não frequentei os bares que , ao que parece, os negócios do meu amigo, exigiam dele nos seus contactos.
     Perambulando à toa cheguei a um lugar, ao que me parece,deposito de animais de monta, onde se amarravam os animais, já que era dia de feira, e, ao olhar casualmente para os lados, deparei-me com uma cena bizarra e inusitada, passados mais de quarenta anos não me sai da cabeça. 
            Um homem com uma espécie de máscara abaixo dos olhos, um pano solto, amarelecido e encardido, enfiava algum tipo de alimento na boca. Lembrei-me que já o vira uma única vez, em dia de sábado, em Itiúba, minha cidade natal, para nunca mais avistá-lo, salvo agora, em Andorinhas. O que vi foi tétrico e pavoroso. O homem não possuía o lábio superior nem o nariz. Recolhido e fugidio de púbico, aquele homem se recolhia escondido diante da sua infelicidade, verdadeira monstruosidade a que não dera causa nem era culpado, mas sabedor de que a humanidade não o aceitava.         Jamais esqueci aquela cena pavorosa do ponto de vista da estética, pelo que fiquei a ruminar o que levara aquele pobre e desafortunado homem ao estado de tamanha miserabilidade física.
           Bem verdade quando cheguei muito anos depois à cidade de Santo Antonio de Jesus conheci e travei diálogo várias vezes com certo senhor que exercia cargo na Embasa, despossuído de nariz, mas que a ciência providenciara um, de cera, seguro pelos aros dos seus grossos óculos de grau, imitando e tudo por tudo a sua cor e suas características, incapaz de cercar a minha capacidade de vista, e de curiosidade mórbida, pelo que, ao falar ele ao dele quem se aproximasse, podia-se ver de um lado ao outro na base de cera que se apoiava sobre o rosto, o nariz saltitando quando ele emitia sons vocais!
         Essa bizarrice humana e essa morbidez humana, não se têm explicações, teima em permanecer no nosso consciente, a matutar e a refletir causas e porquês de tais