O que você quer saber sobre História?



Este blog tem como objetivo discutir História, postar artigos, discutir assuntos da atualidade, falar do que ninguém quer ouvir. Então sintam-se a vontade para perguntar, comentar, questionar alguma informação. Este é um espaço livre para quem gosta de fazer História.

sábado, 18 de junho de 2016

‘70’



                                               

          Alcancei a marca. Bati na marca. Sim, cheguei nesta data 18, aos setenta anos. No somatório, nada de novo. Todas as experiências, todas as coisas por que passei, foram vividas no estuário comum de qualquer mortal. Sim, cheguei aos setenta anos de vida.

        Quando nasci de novo aos vinte anos, aprendi na minha igreja Batista um hino em que se manda contar as bênçãos alcançadas. Todas as vezes que olho para trás, conto graças. Formei minha família, fiz filhos, plantei muitas, mas, muitas árvores mesmo, e, escrevi livros, e vivi as experiências da vida.

        Plantei muitas cruzes em cemitérios distantes espalhados pelo Brasil imenso, ajudei a levar pessoas amigas, conhecidas e desconhecidas aos cemitérios, e, lá ajudei a fincar cruzes marcando o solo sagrado na conformidade da sua fé.

       Cheguei aos setenta, e, como depositário da fé, muito mais  amadurecido, experimentado e sofrido na esperança do meu amanhã atravessando o Mar Vermelho da minha existência, e, me fortalecendo dia a dia na oração e na leitura da minha bíblia. Já não conto faz muito tempo, o dia do amanhã, esse desconhecido e improvável acontecimento. Aprendi a contar e vivenciar o meu hoje, meu instante, meu presente. Não faço futurologia e nem esboço de dentro do meu coração anseios de vida longa que eu não desejo, nem quero, nem almejo.

        Cheguei aos setenta com a consciência livre e encantada do dever cumprido, de ter sido um bom cidadão exemplar, um bom pai depois de ter sido um bom filho. Criei filhos no temor do meu Senhor e aprendi a contar os meus dias na presença do meu Senhor.

         Cheguei aos setenta, cheio de orgulho de ter evitado errar o máximo que eu podia e de ter contribuído, de alguma forma, para o engrandecimento do ser humano ajudando e criando bons filhos e bons cidadãos.

          Por tudo digo: “solo gratia plena Dei”.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Caro Bertinho:



         Sempre que revejo os DVDs da ONG – SERRA DA ITIÚBA, não apenas lágrimas nos olhos me saltam e anuviam a vista. Penso muito na possibilidade de vocês encamparem uma idéia muito interessante que seria o da construção do MUSEU DE ITIÚBA.
Espaço existe como o da casa da D. Bebé, proprietária da Fazenda Salgada que originou o Povoado e, consequentemente, mais tarde, Arraial, Vila e Cidade.
O imóvel seria muito adequado e, creio que o valor monetário, poderia ser bancado pela comunidade de Itiúba via Prefeitura.
Só não podemos ficar à mercê de prefeitos analfabetos e carreiristas, para os quais,a história para nada serve, bem como não podemos depender de Câmaras de Vereadores preocupadas muito mais em dilapidar, usufruir, enriquecer e garantir sobrevivência.
 Para tal, sem que alguém comprometido com a história e a cultura da nossa terra tome as rédeas, corre-se o risco de desaparecer aquela casa já bastante estiolada sem a consecução desse plano e o sonho de um museu de Itiúba desaparecer.
SAJesus 13/06/2016

Um abraço renovada a amizade do Conterrâneo


Max.

sexta-feira, 10 de junho de 2016

MEUS CAROS MÉDICOS

                                        
         Escrevo para dizer a vocês que continuo aqui livre, leve e faceiro. Tive o discernimento de acordar do pesadelo e recusar o desumano tratamento que vocês dão para as pessoas com câncer. Em vez de submeter-me cego e doido, acordei e, simplesmente raciocinei: médicos são seres frios e impessoais movidos por um dinariozinho que ninguém é de ferro.
        Calculei que minha largada do porto, enfunadas as velas, amarradas as poitas, assestado o cabrestante e ajustada a bússola na direção norte, deverá ocorrer dentro de uns quinze a vinte  a dias, podendo até ultrapassar, que nada é fatal neste mundo de projeções. Aí sim, deverei iniciar propriamente a travessia do mar vermelho em direção à praia alva do outro lado, quando aportar serenamente o meu navio.
       Sei que não sentiram muita falta da minha presença lá nos hospitais. Tampouco a sentirão. Afinal de contas pacientes são só pacientes a experimentar, como cobaias, drogas sem comprovação nenhuma cientifica, como meros e expectantes sobreviventes da sorte.
       Estou feliz. Rio da minha vida, embora a doença incomode e cause muito desconforto, pelas dores que são terríveis, não obstante, o desconforto de um modo geral possa ser suportado.
        Não tenho mágoa nem me lastimo de nada. Muito pelo contrário, agradeço a Deus e sou um privilegiado. Mas tenho um segredinho para dizer a vocês e não quero que as pessoa saibam, mas, para tal, preciso falar baixinho aos seu ouvidos;
          “Tenho uma pressa retada de deixar essa vida”. Mantenham segredo.

        

quinta-feira, 9 de junho de 2016

RESTAURANTE E CINEMA DE ITIÚBA.

                          
             Morei em Itiúba a partir de 2005. Um dia parei num restaurante com minha esposa. O horário era do meio-dia, hora de almoço. Pedi certo refrigerante e o cardápio. Estava sentado dentro daquele prédio da minha infância e adolescência, verdadeiro templo de saber e de conhecimento, de diversão e de felicidade.
          O antigo Cine Itiúba do Bertinho!!!
          Minha esposa não deixou de ver minhas lágrimas indisfarçáveis encherem os olhos. Falei para ela, descrevi sons e telas, lugares e recantos como se estivesse menino retornando no tempo e rompendo de volta o espaço na invisibilidade.
          Falei de pessoas entrando e saindo, em especial nos dias de domingo e sábado, dos meus olhos compridos e tristes, na frente do cinema, de quando não tinha dinheiro para pagar o ingresso, das películas, de artistas, de monstros sagrados que se foram de prefixos musicais, de filmes e de tudo que povoou meu imaginário. Falei ainda das noites mágicas e feéricas, de faiscantes lâmpadas, das tabuletas pintadas pelo Isnar, assim como falei do Macambira espalhando-as pelas esquinas centrais.
         Chegou a comida. Comi-a em silêncio. Partimos
         A vida é um “partir” sem fim.


quarta-feira, 1 de junho de 2016

Sobre circos, rumbeiras e palhaços

                         
         Vejo com os olhos   que a terra fria há de comê-los conforme hiperbolicamente e pleonasticamente a língua me permite, dos sentidos aflorados nas recordações, a grande lona de circo sendo montada por mãos calejadas e frontes suadas. A azáfama, o corre corre desesperado para erguer o circo, os carros coadjuvantes se organizando formando uma barreira ao derredor, e, pouco a pouco, aquela estrutura se desenhar no mundo  ocupado pelo circo já erguido.
         Já de tardinha, vejo o palhaço com suas enormes pernas-de-pau, cara pintada com seu nariz vermelho- vivo e calças largas e folgadas num esforço terrível para alcançar as próprias pernas. Vejo meninos de calças curtas ao redor disputando um lugar para sair atrás do palhaço pela cidade anunciando e repetindo aquele refrão velho e engraçado que não sai das mentes dos meninos já adultos. Vejo menino com caras marcadas por cruzes feitas nas testas de óleo e carvão para que não pudesse ser apagado, o cuidado em não tomar banho para não lavar a cara, a mãe verberando que “você não precisa disso”, e vejo meninos enfileirados para reclamar o direito de adentrar ao local, de risos e felicidade, por terem gritado que o “palhaço era um ladrão de mulher” durante toda uma tarde.
       Vejo rumbeiras lindas, sacudindo as ancas febrilmente dançando mambos ao som de bandas anônimas, pernas e coxas grossas e voluptuosas, olhares ávidos, homens de todas as idades com aqueles olhares gananciosos e indisfarçados, quase despudorados, mulheres - esposas absolutamente com as caras amuadas diante, e, na hora das rumbeiras, sublime instante para os nossos pensamentos ainda que pueris na ausencia de poder.
         Vejo o circo nos seus dramalhões formidandos, em Três Atos, o riso e a felicidade, a alegria e os assobios aprovadores. E, finalmente a tristeza de ver a lona ser deitada, transportados todos os utensílios para os trens. Vejo as rumbeiras e trapezistas não tão deslumbrantes em roupas comuns, correndo, carregando filhos e tralhas, para não perderem a hora do embarque rumo a outras praças.
       Vejo o quanto morremos neste existir flegmático, nesse transe de dores, existências vividas e despedidas.
          Assim eram os circos em Itiúba na chegada e na despedida.