Já foi dito que o homem pode tudo. Já foi cantado e decantado o poder
que o homem pensa ser e ter. Já foi dito que o homem pode vencer tudo.
Não pode!
Apenas e tão apenas somos estuários de situações pré existentes ao
homem. Não se pode dominar nem exercer nenhum poder sobre aquilo que
não fabricamos consequentemente não se tira poder de onde não fora dado.
Quando o homem, enquanto ser, se debruça sobre a existência e tudo
quanto dela advém, sobra-nos um entendimento no sentido da nossa total e
abissal incapacidade de gerir seus efeitos, prever ou até mesmo suportar.
Vamos aqui e agora nos referir ao que os gregos na sua sabiedade e
perquirição sobre o “desconhecido” legaram ao mundo através da filosofia, da
inquirição, dos questionamentos, da razão e da profundidade levando-os ao
reconhecimento das limitações do homem.
Queremos fazer referencia ao deus “Kronos” que vem a ser o “deus do
tempo” em que o homem se antecipa na sua incapacidade de prever o instante
seguinte, não tem sobre ele o mínimo poder, se distancia na sua incapacidade
de antever e prever fatos e acontecimentos. Quando ele menos nota esse
inexorável lapso, já se distanciou. O ontem é apenas um passado esvaido,
enquanto o desvendar do amanhã é uma conjectura jamais alcançada
compreendida ou até mesmo percebida.
Kronos é o tempo, seus complexos e suas exatidões, embora o homem
permaneça extático e imbuído de poderes que pensa tê-los, porém,
absolutamente inservíveis para entrar na sua soberania sobre os mortais. A
cronologia que é nada mais nada menos que a idade medida e estudada,
passa a ser para o “ser” o que virá e nunca o pretérito.
Do outro lado no mesmo Panteon dos deuses gregos tão fartamente
criados e exaltados por eles, desponta na sua magnífica mitologia, a maior
delas sendo, possivelmente, aquela a quem mais se devotavam que era o
reconhecimento de “Thanatos” personificação da propria inexorabilidade da
morte. Dedicando seus mais aprofundados questionamentos sobre o fenômeno
morte, os gregos legaram ao mundo idéias que pensavam aprofundadas, com
suas consequencias descrevendo formas e modos de morrer, mas ao mesmo
tempo dedicando total e obsequioso desprezo sobre ela, uma vez que
reconheciam sua inexorabilidade e sua exequibilidade.
Os gregos dessa forma se esteavam na inexequibilidade mortal para, até
certo ponto, criar nas suas mentes, tanto idéias quanto conceitos, chegando ao
desprezo e pouco apreço pela propria vida.
Reconheciam desse modo o que eles mesmos chamavam de
“Methanóia” que vem a ser a incapacidade de qualquer arrependimento,
imbuídos de outro verbo que ao mesmo tempo é adjetivo “Methanuel”. Assim, o
arrependimento para os gregos soava como uma incapacidade de voltar atrás
mas reconhecer, assim como as idéias do “demiurgo” a não repetição dos fatos
ocorridos, não permitindo nem admitindo nenhum mudança em que o ápice das
suas concepções no reconhecimento de que o “homem não pode mudar as
coisas”.
Não foi à toa o nascimento e surgimento das mais variadas correntes de
pensadores, a despeito dos “estoicos” que pregavam e ensinavam o
desprendimento e a capacidade do homem suportar as dores e os reveses da
vida. Nas cidades-estados, em especial Atenas e Esparta, a criança aprendia
desde a infância o ônus das dores e aflições morais, físicas e espirituais, uma
vez que eram entregues ao Estado, aprendendo e sendo disciplinados a
suportar dores e a morte sem reclamar, ao contrario de outras correntes como
a dos “Cínicos” encabeçada por Epicuro que ensinava que se devia “comer e
beber, uma vez que amanha morreremos”.
Oxalá pudéssemos beber, ainda que, de vez em quando, alguns desses
conceitos. Mas que eles estão aí não se discute.
Seja como for, tanto a morte que é Thanatos, quanto o tempo que é
Kronos aí estão no nosso dia, desafiando os homens a mudá-los ou a
influenciar sobre qualquer deles.
Não pode!