O que você quer saber sobre História?



Este blog tem como objetivo discutir História, postar artigos, discutir assuntos da atualidade, falar do que ninguém quer ouvir. Então sintam-se a vontade para perguntar, comentar, questionar alguma informação. Este é um espaço livre para quem gosta de fazer História.

domingo, 27 de agosto de 2017

Última Postagem

É com pesar que informamos que esta será a última postagem neste blog, pois Max, o Historiador, faleceu na madrugada deste sábado, 26 de agosto de 2017, após enfrentar um câncer por 3 anos. 
Morte serena  e tranquila, deixou de historiar para fazer parte das nossas histórias. 
Para aqueles que o seguiam, resta reler suas aventuras na História e aplicar suas reflexões no dia a dia. 
Até um dia.  

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

TIA MARICOTA E TONTONHO.

Assim chamávamos o casal de velhinhos que morava junto à nossa casa. Acostumados ao respeito e ao acolhimento, os meninos do meu tempo costumavam chamar as pessoas amigas e vizinhas de “tios e tias”. Então, Tia Maricota era aquela velhinha bondosa e delicada sempre mascando um pedaço de fumo de corda e a soltar suas cusparadas longas. Tontonho que suponho fosse “tio Antonio” era um estafeta dos Correios, cabelos completamente esbranquiçados pelo tempo a fungar continuadamente. Era uma família numerosa, todos os amigos e de idades diferentes, alguns muito mais velhos. Mas nos dávamos muito bem. Para lá íamos eu e o Mario, meu irmão, após o almoço, para fumar as escondidas na casa de Tia Maricota que, cúmplice inveterada, não nos entregava aos nossos Paes. Lá nos esparramávamos pelo chão da sala, sendo raras as cadeiras já que o casal era muito pobre. Aquela casa exercia um fenômeno de atração sobre nossas almas juvenis e ali aprendíamos muitas coisas, sobretudo o respeito e o carinho, a doação e a delicadeza. Saíamos por volta das 15 horas quando os velhos se retiravam para uma soneca, após o almoço. Nunca fomos mandados embora. Aquele poço de delicadeza e bondade era incapaz de ofender seja quem for. Como o mundo dá suas voltas, não pude despedir-me dos dois na passagem da janela do tempo quando se fechou para eles. Morava e estudava distante, aliás, marca registrada da minha vida de não me despedir dos entes queridos. Mas fica aqui o registro repetido daqueles amados velhinhos da minha mocidade com o meu preito de gratidão.

domingo, 4 de setembro de 2016

DILMA, O POSTE.

           
                                            
          Creio que meus netos, daqui a uns cinquenta anos, se perguntarão: o que nosso avô quis dizer, quando chamou essa senhora, de “Dilma, o poste?Creio que pensarão , ajudados pelos seus pais; meus filhos, e ,consequentemente pais dos rebentos, que o avô era um dos exóticos intelectuais que viveram no  passado. Talvez , de algum  modo , quando não estiverem caçando pokémons, se debrucem sobre o instrumental que a ciência joga no mundo nos dias, e, dentro desse instrumental maravilhoso que é a ciencia, desvendem o que aconteceu, um dia, quando a juventude do tempo do avô era quase ou totalmente absorta, pobre de raciocínios, incapaz de pensar e de ler uma pobre e insignificante linha de um livro.
      Talvez, meus netos, conversando com seus pais, ouçam que o “velho” era dono de uma alentada biblioteca e que, seu avô mesmo no seu tempo,era um “velhinho” doido por livros e jornais que lia com sofreguidão e com muita fome de saber e aprender.
         Os meus netos possivelmente não aceitarão essa coisa e começarão a interrogar como se estivessem diante das antigas penitenciarias o que significava “ler”.
          Meus filhos certamente procurarão explicar aos seus filhos, meus “netinhos discaradinhos” que o “vô, mesmo no seu tempo, já era um velhinho que “ainda” gostava de ler livros, e  o cara, se deliciava com o que lia, embora  um cara que vinha de dois séculos.
          Não devemos esquecer-nos de informar que o miserável e desacreditado vô era um cara perdido no tempo e no espaço, e que, não tinha como falar com a juventude, porque existiam coisas como “whats aap”e que, nem mesmo os namorados, esposas e familiares se comunicavam mais, salvo se estivessem  em  perigo de vida.
         Os meus netinhos vão dizer e se espantar o quanto o avô era um bicho do mato, um “desplugado”, um “desantenado” da vida, e, como o velhinho do seu pai era um ultrapassado, que escrevia poesias; sonhava, declamava versos e conversava aquela conversa de pé de ouvido às amadas, fazia serenatas e declamava versos à mulherada, se debruçava em amor e conseguia amar.
          Espero que você diga que o curso da ciencia e do conhecimento é inexorável, mas que, seu pai, portanto avô dos pobres e desarvorados e sem objetivos dos meus netos, era um intelectual, que lia, deglutia e amava os livros que existiam no nosso tempo.
          Enquanto isso, seus filhos estarão voando e navegando pelas galáxias da insensatez.
       O resto é só a mais pura tolice de um velhinho ultrapassado, assustado com a imbecilidade do mundo que ele, na sua ignorância, pensa.
          Salvo, se caçar pokémons, e conversar com a namorada na mesma mesa através de telefones, sejam a forma correta e romântica.
          Se não for, então que me perdoem meus netinhos a terrível e crônica ignorância desse avô desgraçado e desnaturado que fala mal da juventude!!!.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

SOBRE GENGIBIRRA E REFRESCO DE MORANGO

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         Minha infância foi assim mesmo. Nada de refrigerante, salvo um único, aos domingos, quando saia a passeio com meu pai. Nos sertões de Itiúba, interiorzão da Bahia dos meus idos tempos, quando ainda não existia essa coisa modernosa de “fast food”, “praças de alimentação”, “shoppings centers” o escambau.
       Deixou-me a marca indelével que permanece soberana. Detesto morangos. Não combino com o sabor, poucas vezes compro-os, salvo para agradar à minha esposa. Detesto morangos e, a razão, é simples: no Bar do Zé Dantas bebíamos a doer às têmporas, de tão gelado, em preços que podíamos pagar copos e mais copos daquela beberagem de cor vermelho vivo, incorpado e incorporado aos sabores da minha geração.
          A sisudez do Zé Dantas, charutão na boca e não tão bem humorado, “menino só entrava para comprar, pagar e sair”, entre resmungos, que o homem não era lá de muita conversa, em especial com garotos.
         Já procurei por esse mundão a tal da “essência” com a qual o Zé Dantas preparava aquele “manjar”, e jamais consegui descobrir ou encontrá-la. Eis a razão pela qual meu paladar ficou viciado com aquele sabor maravilhoso a ponto de não conseguir digerir a fruta morango nem jamais consegui fazer, sequer, um licor com aquele sabor.
         Outra iguaria tratava-se da tal da gengibirra, uma beberagem vendida ao natural, em copos “faz- de- contas- que- lavados”, acomodado num barril de madeira que era trazido pelo seu proprietário e vendedor, lá dos lados da Rua da Estação, tendo armado, sobre o tonel, um guarda chuva preto e sebento de tanto uso, sendo estacionário entre a Loja do senhor Augusto Moura e a farmácia do senhor Soares, ambos já despedidos deste mundo.

          O tempo se encarregou de apagar, tanto os vendedores, quanto os consumidores. Coisas simples “que desaparecem e ninguém mais se recorda, salvo os” meninos-velhos” ou “velhos-meninos” perdidos no tempo e no espaço a remoer tempos idos que jamais voltarão.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

CATEDRAIS


O mundo todo sabe o significado de “catedrais”. Em especial na Idade Média quando os chamados próceres do catolicismo na sua megalomania, construíram, ainda que quebrando nações sob seu infame domínio, quando não, países inteiros.
Obrigavam vassalos a ficarem despossuídos dos seus patrimônios com promessas mirabolantes de encontrarem um pedaço no céu, ao seu dispor, depois, e, quando partissem dessa para o além. Foram construídas catedrais imensas e portentosas, algumas, sobreviveram às destiorações e às intempéries, desafiando o espaço e a calamidade que se abate, pela natureza zangada, ou, pela simples passagem inexorável do tempo.
Mas não são aqueles ricos e faustosos monumentos que nos referimos. Refiro-me mesmo às catedrais construídas por nós, para nosso deleite, e, ao mesmo tempo desconforto de terceiros, daquelas que o tempo se encarrega de apagar todos os vestígios e de fazer esquecidos construtores, arquitetos tolos.
Construímos para nossa vã filosofia catedrais enormes, nos perdemos em emaranhados tapumes, desvendamos quartos e dependências recônditas e nos escondemos na célula mais ínfima como se escudados na incerteza das nossas próprias construções, e nos perdemos e descemos até o mais escuro e desconhecido labirinto, a ponto de precisarmos de meadas para dali nos safarmos.
Por momentos embasbacados nos aprumamos nas nossas vãs existências, corriqueiras, rápidas e silenciosas, no descampado da realidade da passagem rápida e porque não dizer, até brusca, tal ou qual a chama de uma vela batida pelo vento, ou o distanciar de um navio do seu porto de partida desaparecendo na curvatura dos oceanos.
Em tudo nos perdemos nesse lamentoso e choroso momento em que teremos de deixar incólume, e, em abandono as catedrais construídas , a perenidade daquele que há por vir. O sagrado escritor já dizia: “Lembra-te homem que és pó, e em pó te hás de transformar”. Não obstante continuamos lavorando nas nossas construções, nos cercando de muros e minaretes, nos distanciando da existência e da abertura das almas e nos aprofundamos nas nossas incoerências, esvaindo-nos em esforços vãos que não nos levam a caminho algum, quando muito, encurta os passos para a morada dos mortais.
Deixamos para trás simples e pobres intrincados de construções ricas e mirabolantes, portentosas e suntuosas no desvario das nossas
concepções e das nossas fatuidades existencialistas, em nome e em benefício das nossas pobres, tristes e vaidades passageiras.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

UM CRENTE CHAMADO LINO

                                       
         Conheci o meu dileto e desaparecido amigo e Irmão Lino, em dois momentos distintos. O primeiro, quando eu era criança nas aulas de catecismo na paróquia Local, quando nas tardes de domingo o velho pároco ladino e espiritualmente equivocado nos ensinavam a nutrir ódio pelos “protestantes”, “pelos bodes”, “pelos capas-pretas”, “pelos inimigos da virgem Maria” com as recomendações para que nós disséssemos ao padre, no domingo seguinte, “se papai e mamãe tinham recebido em  algum protestante capa preta”.
          Passei a conhecer Irmão Lino e evitava aproximar-me do seu filho de nome João e, outros que a mente já não se recorda, como sendo “filhos do homem inimigo da igreja católica”.
        No segundo momento, conheci-o no ano de 1968 e 1969 quando cheguei a Itiúba transformado e lavado pelo Sangue de Jesus Cristo e me dispus a fazer e a realizar a obra da pregação e da salvação dos perdidos e desesperançados, para desespero dos meus pais que viam com imensa tristeza seu filho “protestante”.
          Jamais em toda a minha existência conheci um homem de profundo amor e desprendimento pelos perdidos. Viajávamos para lugarejos os mais distantes, em longas e cansativas caminhadas, cuja finalidade era a de levar o Evangelho aos perdidos. Ganhamos desse modo, muitas almas para Cristo. Humilde e conhecedor das escrituras, Irmão Lino criou por mim uma amizade profunda e eterna dessas que nem a morte consegue apagar nem fazer desaparecer pela ausencia.
          Ele possuía oitenta anos. No ano de 1968 salvo engano, o homem conseguiu ganhar uma jovem tornando-a sua esposa, acho que pela quarta vez casado daí nascendo uma garota hoje, já uma mulher madura, e que, faz parte da nossa Igreja Batista.
          Eu tinha em 1969 a idade entre 22 ou 23 anos, portanto no melhor do meu rompante juvenil. As dificuldades em acompanhar as longas passadas daquele gigante Lino pelas estradas poeirentas eram imensas. Muitas vezes tive de trotar para poder acompanhá-lo, o que disfarçava para não dar o braço a torcer. Coisas da vida.
         Não nos despedidos. Em 1969 fui para o Rio de Janeiro completar meus estudos no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e, nunca mais nos vimos. Arrebatado deste plano, não pudemos nos despedir nem eu fazer aquela prédica que sei, ele gostaria.
          Essa minha homenagem ao Irmão Lino é eterna. Tenho dito aos meus amigos mais chegados que, quando no Céu chegar, entre todos seremos os primeiros a nos abraçar. Irmão Lino foi um gigante na fé que na sua humildade e paixão pelas almas perdidas não se poupou de levar a mensagem nos lugares mais difíceis.



quinta-feira, 21 de julho de 2016

“CANTU”

             Assim mesmo. Simples como a simplicidade em si. Alguém poderá até acrescentar que o correto seria “Kantu”. Não sei; não sabemos. Mas todos sabem que se tratou de uma dessas criaturas simples, gente do povo, talvez sem aderências afetivas ou sociais, que passou resvalando por esse vidão que o Deus nos dá. 
              Dona Cantu foi uma velhinha de pernas frágeis, sequinha e de olhos envidraçados por alguma malvada catarata do abandono da velhice e da dureza padecente em que vivia.
             Morava na Praça Nova, numa casa velha destiorada pelo tempo, lavada pelas muitas chuvas e batida pelos muitos sóis dos sertões. Na frente, existia frondoso e alvissareiro tamarindeiro a desafiar pedradas e garotos ávidos.
              Descubro-me o quanto éramos os garotos daqueles tempos, cavalheiros. Nunca negávamos o pronome de tratamento “dona” ou “senhora”, pelo que a condição de pobre criatura e desafortunada da vida Cantu não autorizou, jamais, menino do meu tempo a lhe pespegar um “Cantu” desrespeitoso sem as devidas mesinhas do trato com intimidade.
              Não lhe sabemos a origem. Apenas que era uma frágil criatura que vivia com, ao que parece, uma das suas irmãs ou parentas, ajudava a entregar leite que era vendido de porta em porta, enfim, uma simples “menina de recado”. Andava com regulares dificuldades, talvez pela artrose que não poupa os velhos, mas de uma lucidez à prova, capaz de ter e contar com simpáticas pessoas que a respeitavam entre elas Dona Maria Cesar, vetusta e rígida mãe do escriba denunciador que exigia respeito pela “Cantu” e que não admitia que os filhos apelidassem a Cantu, que ficava fula e raivosa a cuspir impropérios contra os seus “detratores”, sem contar e relembrar que ela fora aquela que levava leite todos os dias para os filhos.
              Às vezes na calada da fria madrugada, penso e matuto: e se os meninos daqueles tempos recebessem hoje os apelidos que dávamos nos velhos daqueles tempos? Deixa pra lá. 
               Por lembrança de Tânea Gouveia, conterrânea, que ontem fez referencia ao nome da Cantu, chegou-me a lembrança, uma vez que já escrevi aqui neste blog sobre outros populares como Queixinho, Vicente e tantos não menos populares, nas recordações que os velhos, meninos do ontem distante, nem de longe poderiam pensar que nas brumas do passado enterramos as recordações. 
                Obrigado, Cantu! Até logo, Cantu!